俳文Haibun (はいぶん) – diário de bordo “Japão de Uedas e Tamamuras”

fevereiro 14, 2007

BARENTAI DEE バレンタインデー

Filed under: Uncategorized — Tina Fonseca @ 2:45 am

Hoje é o BARENTAI DEE (de Valentine’s Day) o Dia dos Namorados aqui no Japão. É tudo tão diferente! As mulheres saem à caça de chocolates para presentear pretendentes, namorados, homens da família e até colegas de trabalho e (principalmente) os chefes!

Feito isto, aguardam as respostas na segunda-feira seguinte. Significa que se não tiverem retribuição, seu “cortejo” não foi aceito. Simpático. Melhor do que levar um sonoro “não estou a fim de você” assim: na lata.

É, também, o MEU PRIMEIRO BARENTAIN DEE com Jonny. Primeiro de muitos, esperamos. Comprei um coração de chocolate e imprimi uma foto unidos pelo Photoshop. Quis dizer que fui até um laboratório perto de casa e imprimi uma foto que havia digitalizado, onde reuni nossas imagens da mesma maneira que unia nossas imagens enquanto estávamos separados pela distância.

Embalei e escrevi num bilhete algo que agora me remete à antiga saudade do que ainda não havia vivido.

Quando você está longe de quem ama, sente saudade do que ainda não passou. Uma saudade gostosa que te movimenta na direção dos sonhos. 

Mas no ato do reencontro, aquela saudade é arrastada pela onda de um choro comovido que afasta essa distância que desague lá bem longe o mais longe do presente da vida presente. Nunca mais a dor da dor do amor longe das mãos, longe do beijo.

Nunca mais…

Dia de Festa

Dia 8 foi aniversário do Jonny. Ele trabalhou à noite, portanto a “festa” de comemoração aconteceu por volta das oito da manhã deste dia. Na véspera, já à noitinha eu havia festejado minha primeira escapada sozinha (e sem me perder!) até o mercadinho com a “magrelinha” (minha bicicleta.

Tinha juntado uns trocado$ e deu pra comprar bolo, champagne, velinhas coloridas… Bem, como não encontrei bolas (“bexigas”, como dizem os paulistanos), as nem tão boas e nem tão velhas camisinhas do digníssimo cumpriram bem o papel de enfeitar a casa e até perfumar com essencia de Ylang Ylang?!

Eu tranquei a porta para saber a hora exata de acender as velas, afinal, a surpresa era para ele e não para mim, certo? Na chegada, o abraço, o beijo demorado e o ofurô com sais e flores de jasmim e camomila.

Precisa dizer onde a gente comeu o bolo e bebeu o champagne?

Emoções…

Minha mãe mandou de presente uma pasta de couro corrugado, moderno, cheio de ranhuras, liiiiiiiinda e própria para carregar o seu primeiro portafólio – uma encadernação com capa dura, laminada e lombada que eu tratei de produzir. Somente Deus, este micro e eu sabemos o que foi este trabalho e o quanto representa para nós nesse recomeço.

Não deu pra segurar a emoção. Agora é seguir em frente.

Ah! Uma parte do presente eu havia dado já no caminho do aeroporto para casa: uma antiquíssima corrente de filigrana com um GOEN. O par está no meu pescoço…

fevereiro 7, 2007

No céu

Filed under: Uncategorized — Tina Fonseca @ 10:06 am

Foi a primeira vez na vida que vi o dia virar noite e novamente virar dia em menos de 12 horas. A sensação era a de cruzar um portal mágico, como nos filmes de Highlander. Já sob o mar do Japão, a Natureza me presenteou com a visão inigualável (foto) do raiar do dia.

No céu

A pontualidade deixou de ser britânica. A chegada estava marcada para 9h25 e assim aconteceu. A expectativa era grande. A viagem iria muito além de o fato de conhecer um novo país. Meu “país”, o melhor lugar do mundo para uma mulher, é um coração onde possa ancorar a nau de seus desejos e era este “porto seguro” que eu buscava encontrar depois de oito meses de espera…

Osaka Kansai 

Depois da sabatina no consulado japonês às vésperas do embarque, da expectativa pelo visto (consegui o de negócios como eu queria e precisava), agora era a vez de passar pelo crivo da Imigração. Desembarcar em qualquer país do mundo já era uma loteria; mas depois do fatídico 11 de setembro e os inúmeros atentados, tudo é motivo para suspeitas.

No sagão do desembarque, uma placa gigantesca avisava que “pessoas suspeitas poderiam ser encaminhadas para uma sala à parte”. Recebi um formulário que perguntava sem qualquer cerimônia: 1) se eu já havia sido deportada; 2) se fazia uso de drogas como maconha e cocaína e 3) quanto dinheiro eu portava – assim: “direto e reto”.

Acho incrível isso: é como no tempo em que “o fio do bigode” era a garantia da palavra. Em seguida, um cão veio cheirar minhas malas e me diverti vendo como o policial brincava com o animal.

Enquanto eu preenchia o formulário, outro agente se aproximou e me fez diversas perguntas: quis saber desde o motivo da viagem, até onde eu ficaria hospedada, meu cronograma, telefones, endereços, nomes… O mais incrível é que eu tinha de controlar a mente para não tremer diante do agente. Como iria explicar que a causa estava na emoção do encontro, estava na paixão e não no medo? Consegui manter-me extremamente calma e segura. De fato, a simpatia, solicitude, a educação fazem toda a diferença.

Fui a última pessoa a  deixar a ala do desembarque. No salão, bem à minha frente, só enxergava aquele sorriso largo em minha direção. Um abraço, o esperado beijo, um instante de desconsertado silêncio. Finalmente a vida estava para recomeçar.

Passagem para o Nippon – I

Filed under: Uncategorized — Tina Fonseca @ 9:29 am

PassaporteFazia tempo estávamos programando esta viagem. Sou do tipo que acredita no improvável, no impossível. Eu tinha em mãos um bom projeto: simples. Muitas vezes ouvi que o máximo que conseguiria seria um visto próprio para turistas, pelo fato de eu não ser nipodescendente ou ter vínculo empregatício no país. Nada nos abalou.  Jonny encarregou-se dos documentos de um “garantidor”, eu, tratei de fazer a minha parte: planejamento e execução. Tínhamos um compromisso e um cronograma a cumprir.

Dia 18 de janeiro os documentos chegaram e fui direto procurar um especialista para verificar se estava tudo “de acordo”. Logo no dia seguinte levei tudo ao Consulado e em uma semana estaria partindo. Inacreditável!

Parti pontualmente no vôo AF455,  às 18h45 do dia 29 de janeiro do Aeroporto Internacional de Guarulhos com Destino à Paris. Cedi a janela 20A para um menino de 13 anos que viajava sozinho, Igor, uma graça de menino. Filho de pai francês, idioma afiadíssimo, Igor foi um dos melhores companheiros de viagem que já tive, além de ter uma personalidade muito semelhante à do meu Teteu (caçula).

Junto dele, Mercedes, uma paraguaya que estava a caminho de Milão para curtir férias. Parecia sua estréia num avião, pois ela não atinava que a tela do vídeo era sensível ao toque. Me chamava de “anjo da guarda”. Perdi Mercedes de vista quando a levei para fazer o <i>check-in</i>.

Foi bom voltar à “Cidade Luz”, ainda que de passagem. No Charles de Gaule antes da conexão AF 292 com destino à Osaka, uma paradinha para degustar uma torta de queijo numa <i>patisserie</i> espetacular, cujo nome não devo divulgar por conta da deselegância do atendente.  <i>Pas beaux</i>! <i>Chose des veaux</i> à parte, eu tinha cerca de três horas livres para refazer o <i>make-up</i> e explorar livrarias e lojas de cosméticos. Contudo, nada como a Galerie Lafayete…

Charles de Gaule
Às 12h35 começou o embarque para o Japão. Estava animadíssima para encarar mais 11 horas de viagem (entre check-in, decolagens, pousos e conexões foram bem umas 27 horas).

O coração acelerava – eu estava mais perto dos amores de minha vida: Jonny, o Japão e Tamamura (este último, meu objeto de estudo). Dramine para não enjoar, Chandon de praxe – uma combinação que me ajudou a levar a viagem, digamos, “na flauta”.

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